sábado, 5 de janeiro de 2008

Campanha faz-se por cartas - TM

Troca de acusações entre candidatos e apoiantes na segunda volta
Campanha faz-se por cartas

A 10 dias da segunda volta das eleições para a presidência da Ordem dos Médicos, os ânimos estão ao rubro. Na recta final, a campanha parece fazer-se sobretudo através de cartas enviadas para casa dos médicos. E nestas as críticas, acusações e denúncias, de ambos os lados, subiram de tom.
O candidato Pedro Nunes escreveu uma carta aos médicos. Mas, como explica logo no início, esta dirige-se aos que na primeira volta se abstiveram, votaram em Carlos Silva Santos e, sobretudo, aos que pensam votar no seu adversário. «Se votou ou pensa votar Miguel Leão é para si esta carta. Tem o direito e o dever de saber quem escolheu e, devidamente informado, decidir alterar ou manter o seu sentido de voto», lê-se na carta a que o «TM» teve acesso.
Diz Pedro Nunes que perante a «mistificação e a mentira que não conheceram limites» viu-se obrigado a defender a sua honra. E são muitas e fortes as acusações que lança a Miguel Leão. «Durante três anos desestabilizou e fracturou artificialmente a Ordem e preparou ilicitamente à custa desta a sua campanha eleitoral. Apesar da disponibilidade do dr. Jorge Sampaio, impediu a aprovação da lei do acto médico com o irresponsável e demagógico referendo no Norte de um texto já vetado e materialmente inaprovável», acrescenta a missiva. Pedro Nunes diz ainda que «Miguel Leão é a escolha de Correia de Campos» e deixa no ar uma possível explicação: «Será porque durante três anos se ausentou sistematicamente do seu serviço hospitalar para preparar a campanha eleitoral, com conhecimento e bênção do ministro da Saúde?...».

Carta do Norte provoca reacção do CNE

O Conselho Regional do Norte (CRN) da Ordem dos Médicos, liderado por Moreira da Silva, apoiante de Miguel Leão, enviou igualmente uma carta a todos os médicos. Embora datada de 12 de Novembro, a missiva que tem como assunto, expresso logo no envelope, «O dr. Pedro Nunes contribuiu para a destruição das carreiras médicas e aumento de poderes da Entidade Reguladora da Saúde», chegou a casa dos médicos apenas na semana passada. E o seu conteúdo é composto por vários documentos que, segundo os autores, comprovam a falta de «competência, capacidade, legitimidade ou força» de Pedro Nunes. A lei do acto médico e o diploma dos hospitais EPE são alguns dos assuntos trazidos à colação.
E terá sido o teor desta carta que levou o bastonário em exercício, José Manuel Silva, a agir. Segundo explicou ao «TM» o também presidente do Conselho Regional do Centro e apoiante de Pedro Nunes, o Conselho Nacional Executivo (CNE) decidiu, depois de auscultados por telefone os elementos do Sul e do Centro deste órgão, «repor a verdade». «Com muita pena nossa fomos obrigados a gastar os recursos da Ordem num mailing que seria desnecessário se não fossem ultrapassados todos os limites por parte do CRN», afirmou o bastonário em exercício. A carta, que deverá estar a chegar a casa dos clínicos de todo o País, «desmonta todas as acusações falsas que são feitas ao dr. Pedro Nunes», alegou José Manuel Silva, apelidando de «chocante» o conteúdo da missiva do CRN. Na sua opinião, este órgão «conseguiu atingir os mínimos, em termos do que é a dignidade de ser médico e o respeito que deve haver entre colegas».
Por seu turno, José Pedro Moreira da Silva alega que a carta apenas pretende demonstrar que as acusações que Pedro Nunes tem feito à Secção Regional do Norte são falsas. «Durante todo o mandato o dr. Pedro Nunes escreveu na Revista da Ordem que as coisas que o CRN dizia eram mentira; como não temos direito de resposta na Revista, agora que estamos eleitos decidimos juntar os documentos e escrever esta carta aos médicos para provar que o dr. Pedro Nunes é um aldrabão», disse em declarações ao «TM». Aliás, o presidente do CRN não poupou nas palavras: «O dr. Pedro Nunes farta-se de dizer que o CRN pagou gastos do dr. Miguel Leão, mas nunca apresentou documentos que o comprovassem; ao contrário, nós mostramos os documentos que sustentam as nossas afirmações.» Quanto à altura em que a carta é enviada, o dirigente nortenho e apoiante de Miguel Leão não esconde: «Talvez seja uma boa achega para escolher um bom bastonário.»
Além disso, no passado dia 4 o CRN fez publicar no Público um «Esclarecimento aos médicos portugueses», onde questiona a legitimidade de Pedro Nunes para «alterar as regras eleitorais a meio do jogo».

João Semedo indignado com carta do Norte

O médico e deputado do Bloco de Esquerda, João Semedo, não tomou parte activa nem votou na primeira volta das eleições da OM. Mas depois de ter recebido em casa a carta do CRN resolveu mudar de ideias. E começou por escrever uma carta a Miguel Leão, explicando porque, agora, apoia Pedro Nunes.
Ao nosso Jornal, o médico disse ter ficado chocado com a missiva do Norte. «Está ao nível de uma disputa eleitoral num clube de futebol, faz lembrar os autos-de-fé da Inquisição, é mistificador, redutor e maniqueísta», classificou. O deputado questiona ainda a «legitimidade» do CRN para entrar directamente na disputa eleitoral. «Interrogo-me se antes de ser eleito já é assim, como será depois de eleito? Se tais práticas vão fazer escola na Ordem dos Médicos são o suficiente para me empenhar na derrota de Miguel Leão», acrescentou.

Sul apela ao voto

Também o Conselho Regional do Sul enviou uma carta aos médicos da região lembrando que terá lugar uma segunda volta e que na primeira a participação dos médicos do Sul foi baixa. «A 1.ª volta mostrou participações muito diferenciadas nas diferentes regiões. A título de exemplo votaram 36% de médicos na Secção Regional do Norte e apenas 27,5% na Secção Regional do Sul», lê-se na referida missiva. E embora não faça apelo directo ao voto em nenhum dos candidatos, a carta do órgão liderado por Isabel Caixeiro, apoiante de Pedro Nunes, não deixa de dizer que pede a participação de todos para a eleição «não ficar enfeudada a uma votação de carácter essencialmente regionalista». E termina afirmando que «votar é dar força a uma Ordem independente», sendo esta última palavra uma das mais utilizadas por Pedro Nunes, que, aliás, tem como lema de campanha «consolidar a independência, defender os médicos».

Maria F. Teixeira

TM 1.º CADERNO de 2008.01.07
0812731C10107MF01D